13 de março de 2017
Pesquisador defende aproximação entre contadores e microempreendedores para promover o ramo dos negócios sociais
O empreendedorismo social é um fenômeno recente no mundo, surgido em meados dos anos 2000, e que vem se multiplicando inclusive no Brasil. São empreendimentos que, como qualquer outro na lógica capitalista, visam ao lucro, mas têm um objetivo maior: o impacto social e o retorno que podem trazer à comunidade na qual estão inseridos ou, dependendo de sua dimensão, a toda a sociedade.
Esse tipo de iniciativa foi tema da pesquisa de mestrado do contador William Martins de Gouveia, que diz ter descoberto os negócios sociais graças a uma disciplina que cursou no Mestrado Profissional em Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP.
“As pesquisas em contabilidade em geral contemplam os grandes negócios, a atuação dos contadores na manutenção e crescimento do lucro de grandes empresas, por exemplo. Eu acredito que devemos prestar mais atenção aos pequenos empreendimentos, que geram a maior parte dos empregos no País e são responsáveis por uma grande parcela do PIB, além de terem influência na comunidade em que atuam, por isso queria pesquisar esse tipo de negócio desde o início”, diz Gouveia.
Devido à novidade de seu objeto de estudo, o pesquisador teve dificuldade para encontrar informações a respeito na literatura, o que o levou a fazer uma pesquisa de campo, entrevistando empreendedores da área e os contadores responsáveis por suas empresas para entender sua relação. Isso, porém, também trouxe dificuldades a Gouveia. “Entrei em contato, se não me engano, com 54 empresas, e só tive oito respostas, e só consegui falar com a contadora responsável por uma delas”.
Entre as empresas com as quais o pesquisador conseguiu contato estão a paulista Eventos do Bem, fundada em 2015 com o objetivo de organizar eventos para arrecadação de doações a organizações não governamentais (ONGs), a mineira De-Lá Produtos do Campo, que desde 2009 faz a ligação entre consumidores e pequenos produtores rurais do interior de Minas Gerais, e a gaúcha Jogo de Damas, de 2012, que realiza workshops, palestras e cursos para mulheres empreendedoras com o objetivo de alavancar suas carreiras e proporcionar a elas independência financeira.
Segundo Gouveia, das microempresas com as quais conversou, nenhuma chegou ao patamar de gerar lucro e poucas têm estabilidade financeira, situação que ele acredita que poderia ser revertida. “A mais antiga das empresas que entrevistei é a De-Lá, de 2009. Ou seja, a maioria dessas empresas ainda não teve tempo suficiente para crescer.
Mas, além disso, em geral os empreendedores desse ramo não têm formação em administração ou gestão de negócios, abrem a empresa por acreditar que pode gerar algo bom para a comunidade, sem saberem de fato como mantê-la em pé e fazê-la crescer, e os contadores poderiam auxiliá-los nisso.”
Fonte: JORNAL DA USP