Indicadores mostram fragilidade e economia deve seguir em recessão

3 de outubro de 2016

Índices de confiança não se refletem em melhora concreta da economia.
Mesmo a indústria não deverá sustentar uma recuperação neste trimestre.

A safra de dados divulgados recentemente mostra que a economia brasileira ainda não deslanchou no terceiro trimestre e continua em recessão, revelando que os avanços nos índices de confiança não têm se refletido numa melhora concreta da atividade econômica.

A dificuldade de reação ficou evidente com a divulgação do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que funciona como sinalizador do Produto Interno Bruto, que recuou 0,09% em julho na comparação com junho. A expectativa de economistas consultados pela Reuters era de um avanço de 0,25%.

“Os números mostram uma ou outra estabilização, mas o grosso dos indicadores ainda é de frustração”, avaliou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.

Entre os indicadores antecedentes também há frustração. A produção de veículos subiu 4,7% em julho ante o mês anterior, mas recuou 6,4% em agosto na comparação com julho.

Já o fluxo de veículos nas estradas diminuiu 2,8% em agosto em relação a julho.

A venda nos supermercados apurada pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) teve crescimento real de 1,73% em agosto ante o mesmo mês de 2015, mas recuou 2,65% na comparação com julho.

“Esses indicadores antecedentes não têm um desempenho consistente e reforçam a queda do PIB neste trimestre, embora deva ser menor do que no segundo (trimestre)”, afirmou a economista e sócia da Tendências Consultoria Integrada, Alessandra Ribeiro.

Ela estima retração de 0,2% na atividade econômica neste trimestre ante os três meses anteriores, quando a economia recuou 0,6%. Para o ano, a Tendências prevê queda de 3,1% do PIB.

Desde que Michel Temer assumiu a Presidência interinamente em meados de maio, houve um avanço da confiança em todos os setores. A melhora do humor ocorreu porque, na visão de analistas, a equipe econômica de Temer tem mais condições de realizar o ajuste fiscal do que a gestão Dilma Rousseff teria, o que pode recolocar a economia brasileira numa trajetória de crescimento caso as medidas saiam do papel.

Mesmo a indústria, setor que vinha esboçando um quadro de otimismo mais consistente depois de um forte período de retração, não deverá sustentar uma recuperação neste trimestre. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) estima que a produção industrial deve ter recuado 2,7% em agosto. O IBGE divulga esse dado na terça-feira (4).

“Os nossos números ainda não corroboram um cenário de estabilidade ou crescimento”, diz Silvia Matos, economista e coordenadora técnica do Boletim Macro do Ibre/FGV. “A melhora dos indicadores de confiança já era para ter se refletido na economia”, diz Silvia.

Para o trimestre, o Ibre/FGV prevê uma retração do PIB de 0,3%. No ano, a queda prevista é de 3,2%.
Na projeção do sócio-diretor da consultoria MacroSector, Fabio Silveira, a economia vai encolher 0,9% no terceiro trimestre. Para ele, a restrição no crédito, que deve recuar 5,5% em termos reais neste ano, dificulta qualquer expectativa de reação mais forte da economia brasileira tão cedo.

“Essa contração do crédito tem sido muito drástica. Sem crédito uma economia não avança e não consegue sustentação”, diz Silveira.

Atualmente, afirma ele, o crédito está mais fraco tanto pela menor disposição da população em se endividar como pela restrição dos bancos em liberar novos empréstimos. Para 2016, a MacroSector projeta uma retração de 3,9% no PIB.

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